Vimos anteriormente que o Design Centrado no Usuário (DCU) é uma das abordagens que podemos utilizar para criar nossas interfaces e, de uma forma mais completa, toda a experiência do usuário. Quando então definimos que o usuário é a pessoa mais importante no processo de criação, temos que levar em consideração que ele como ser humano é resultado de um construção de competências e experiências.
Além desses argumentos, um em especial que também faz parte da construção do usuário é a cultura. Definimos como cultura uma série de valores, metas, atitudes e práticas adotadas e compartilhadas por um país, sociedade ou grupo. Sabemos que a cultura define e caracteriza quem compartilha dela como, alguns gestos que sentimos e vivenciamos como por exemplo, quando estamos em uma viagem à outro país.
Até aí tudo bem, sabemos que algumas coisas são diferentes ou aparentam ser bem mais diferentes em outros lugares. Em algumas cidades do interior de países de primeiro mundo ainda podemos sair de casa sem precisar trancar as portas. Em países como nos Estados Unidos somos nós mesmos que devemos abastecer nossos carros e em seguida seguir para fazer o pagamento direto no caixa. Mas engana-se aquele que acha que é preciso ir tão longe para sentir essa diferença. Em um país com a dimensão como tão grande como o Brasil, são gritantes algumas diferenças entre como se vivem e o que se faz no norte e no sul.
Mas como esse tipo de cultura pode influenciar a criação de um produto ou interface. Há um tempo atrás eu tive a oportunidade de participar de um projeto em que a interface era controlada através de gestos de mão. Utilizavam-se alguns gestos pré-definidos para realizar operações em diversas aplicações. Surgiu-se então uma pergunta: “Quais gestos deveríamos usar para realizar cada operação?”. No estudo dos gestos, começamos a identificar que alguns gestos têm significados diferentes a depender da cultura. Tomemos por exemplo um gesto chamado de “V Sign” – ou como conhecemos aqui, o V da vitória – Ao realizar esse gesto com a palma da mão virada para quem o faz significa um insulto em países do Reino Unido.

Uma lenda sobre o porque desse gesto é considerado um insulto em tais países é a de que durante a batalha de Agincourt nas guerras de cem anos entre a França e a Inglaterra, os soldados franceses capturavam os arqueiros britânicos e cortavam os dedos indicadores e médios, impossibilitando-os de utilizarem os arcos. Passada a guerra, a rivalidade entre as duas nações perpetuou o gesto como uma forma de dizer “Veja, eu tenho meus dedos e você não”.
Observações ainda mais sutis podem ser observadas em culturas orientais. Algumas cores estão associadas à sensações e momentos diferentes. Um exemplo disso é que o luto é muitas vezes vivenciado em tecidos e cores brancas ao invés do preto tradicional do ocidente. Isso é em parte da percepção de que a morte não é o fim negro e escuro mais sim um momento de passagem e transcedência e com isso, a paz.
Essas nuances devem ser estudadas, capturadas e interpretadas de forma a adaptarmos nossos produtos ao uso correto por parte dessas culturas. Isso significa que cores, orientação do texto, símbolos, convenções métricas e tudo mais devem ser levadas em consideração nessa definição. E vocês, o que mais conseguem lembrar?